Trabalho final apresentado para a disciplina de história da Comunicação
Há no mínimo três meses,
nossas atenções tem se voltado para o julgamento do chamado Mensalão. Desde que
Roberto Jefferson denunciou a farra com o dinheiro público, o esquema nunca
esteve tão em voga como agora. Todos os dias ouve-se alguma coisa nos
noticiários de TV, jornais e revistas.
Além dos cadernos especiais
e da grande cobertura dos veículos de massa, uma situação em especial chama a
atenção pela espetacular forma de tratar um dos personagens do julgamento: O
relator e agora presidente do órgão: Joaquim
Barbosa.
A espetacularização deste
episódio importante e divisor de águas em nossa nação deturpa o real valor do
julgamento em si, e pior, “pasteuriza” a informação ou mesmo a indignação que
devemos ter diante das mazelas sociais, como a corrupção, mal que insiste em
assolar nossa terra tupiniquim desde que esta era colônia.
Filho de imigrantes russos,
da região da Ucrânia, fugidos da perseguição bolchevique, o autor Nicolau
Sevcenko nasceu no Brasil, mais especificamente em São Paulo, em 1952. Ele é
historiador e autor do livro A Corrida
para o Século XXI: no Loop da Montanha Russa.
Esse brinquedo vertiginoso é
representado metaforicamente em seu livro como a história da construção de
nossa era. O loop da montanha russa diz respeito as “viradas” na história do
planeta. Cada mudança relacionada a um grande acontecimento. Após a revolução
Industrial, no contexto do pós-guerra, surge o desenvolvimento mecânico,
tecnológico, robótico e informacional. Aparece também o primeiro Computador.
Segundo o autor, o domínio da tecnologia e sua consequente informatização
voltam às atenções do homem para uma nova forma de produção industrial centrada,
sobretudo, nos serviços, na comunicação e na informação.
As transformações orgânicas,
cíclicas, contínuas e instantâneas do mundo contemporâneo acontecem como a
“violência” de um solavanco de um briquedo descompassado. Neste contexto veloz
e vertiginoso, encontramo-nos, incapacitados e tragados por uma transformação
frenética, cômoda e desenfreada.
Nesse contexto, é fácil
tomar como exemplo os arquétipos, vícios e o único foco que a mídia de massa (mass media) tem tomado em torno do STF
(Supremo Tribunal Federal) e seu pomposo julgamento do Mensalão. Uma foto
emblemática e bastante divulgada de Joaquim Barbosa, com uma capa “a la Batman”, sintetiza essa necessidade
“falsa-nacionalista” de transformar pessoas em heróis, no objetivo único de desviar
o foco das atenções e então manipular o real da forma que melhor lhe convier.
Nossos ministros usam da
isonomia para estabelecer os critérios de condenação e absolvição dos réus. Mas
a mídia tende a interpretar e divulgar o embate de ideias do jeito que bem
entende. Não será de se estranhar que no futuro, essa pauta seja deixada de
lado, em detrimento de outra mais quente. Quem sabe, tenhamos outro evento
jurídico devidamente especial, que esteja acontecendo simultaneamente às
eleições. Ou quem sabe até o ufanismo típico brazuca que esconderá a realidade
através dos gols do Neymar na Copa e das medalhas das meninas nas Olimpíadas
brasileiras...
Sevcenko ressalta que ainda
há tempo para sermos melhor, para a mudança do paradigma, ao passo em que
dermos mais importância as relações humanas e o ser humano e suas complexidades
únicas e peculiares, ao invés da valorização tecnológica e seu consequente
confuso capitalismo voraz e desenfreado.
Ainda não se julgou o caso
dos índios Kaiowás, tampouco o mensalinho
mineiro ou a mesmo a compra de votos para a reeleição no governo FHC. Estacionada
também está à reforma política, penal, tributária, eleitoral...
Enquanto nos encontramos
neste emaranhado de fios, ou não, já que hoje temos o wireless, cabos, torres, tecnologia que já são lançadas para serem
obsoletas até o próximo verão, seremos fadados ao pensamento mediano e comum.
Não teremos interpretações individuais e nem mesmo gosto. Continuaremos a
lamentar o mundo através das contas no twitter, Facebook e afins.
A revista Veja estampa o rosto de Joaquim, como a
gritar que “nossos pretos pobres são melhores que os dos outros”. A
transformação de um ministro do supremo em herói nacional desvia o foco até
mesmo da importância de todos os outros ministros do julgamento, ou o STF é
somente o Barbosa?
Deu-se destaque ao relator
por causa de sua postura contundente, mas esqueceu-se sua postura em outros
julgamentos. O revisor Lewandowski toma papel de escada. Escada, é o personagem
que serve para o palhaço ir a forra e fazer a plateia delirar. Ricardo é ridicularizado
e tomado como vilão, ao ponderar e contrapor Barbosa.
Fala-se de mensalão o tempo
inteiro, mas deixam fora do conhecimento comum às causas indígenas, sociais,
ideológicas e culturais. Tudo e nada é produto. Os outros escândalos de corrupção,
os fichas sujas reeleitos e o sangue do jornal ensopado de sensacionalismo,
compõem o elo daquilo que impulsiona e dita o moderno, onde a sensação de
melhor e mais confortável é sempre mais bem vinda...
O objetivo da notícia é ser
vendida. Bem vendida. No fim, nesse contexto atual, o valor monetário acaba
sempre se sobrepondo ao moral. A voracidade e a velocidade do mundo
contemporâneo transformaram todos em imensos martelos ambulantes, como no filme
The Wall, na
obra prima de Roger Waters e sua Pink Floyd.
Até o dia em que cairemos na
real, em que as portas da percepção se abrirão por completo, viveremos neste
mecânico e enfadonho mecanismo, onde pagamos o preço da prisão robótica e
confortável. Até lá, continuaremos a trocar a liberdade pelo mundo global.
Falsamente global. Categoricamente global, porque assim é melhor pra todo
mundo, vivermos num liquidificador de iguais. Onde o pensamento jamais será
livre.
Parem essa montanha russa
que eu quero descer!