16 de nov. de 2012

O JULGAMENTO DO JULGAMENTO: A PARCIALIDADE DA MONTANHA-RUSSA CONTEMPORÂNEA


Trabalho final apresentado para a disciplina de história da Comunicação

Há no mínimo três meses, nossas atenções tem se voltado para o julgamento do chamado Mensalão. Desde que Roberto Jefferson denunciou a farra com o dinheiro público, o esquema nunca esteve tão em voga como agora. Todos os dias ouve-se alguma coisa nos noticiários de TV, jornais e revistas.

Além dos cadernos especiais e da grande cobertura dos veículos de massa, uma situação em especial chama a atenção pela espetacular forma de tratar um dos personagens do julgamento: O relator e agora presidente do órgão: Joaquim Barbosa.


A espetacularização deste episódio importante e divisor de águas em nossa nação deturpa o real valor do julgamento em si, e pior, “pasteuriza” a informação ou mesmo a indignação que devemos ter diante das mazelas sociais, como a corrupção, mal que insiste em assolar nossa terra tupiniquim desde que esta era colônia.

Filho de imigrantes russos, da região da Ucrânia, fugidos da perseguição bolchevique, o autor Nicolau Sevcenko nasceu no Brasil, mais especificamente em São Paulo, em 1952. Ele é historiador e autor do livro A Corrida para o Século XXI: no Loop da Montanha Russa.

Esse brinquedo vertiginoso é representado metaforicamente em seu livro como a história da construção de nossa era. O loop da montanha russa diz respeito as “viradas” na história do planeta. Cada mudança relacionada a um grande acontecimento. Após a revolução Industrial, no contexto do pós-guerra, surge o desenvolvimento mecânico, tecnológico, robótico e informacional. Aparece também o primeiro Computador. Segundo o autor, o domínio da tecnologia e sua consequente informatização voltam às atenções do homem para uma nova forma de produção industrial centrada, sobretudo, nos serviços, na comunicação e na informação.

As transformações orgânicas, cíclicas, contínuas e instantâneas do mundo contemporâneo acontecem como a “violência” de um solavanco de um briquedo descompassado. Neste contexto veloz e vertiginoso, encontramo-nos, incapacitados e tragados por uma transformação frenética, cômoda e desenfreada.

Nesse contexto, é fácil tomar como exemplo os arquétipos, vícios e o único foco que a mídia de massa (mass media) tem tomado em torno do STF (Supremo Tribunal Federal) e seu pomposo julgamento do Mensalão. Uma foto emblemática e bastante divulgada de Joaquim Barbosa, com uma capa “a la Batman”, sintetiza essa necessidade “falsa-nacionalista” de transformar pessoas em heróis, no objetivo único de desviar o foco das atenções e então manipular o real da forma que melhor lhe convier.

Nossos ministros usam da isonomia para estabelecer os critérios de condenação e absolvição dos réus. Mas a mídia tende a interpretar e divulgar o embate de ideias do jeito que bem entende. Não será de se estranhar que no futuro, essa pauta seja deixada de lado, em detrimento de outra mais quente. Quem sabe, tenhamos outro evento jurídico devidamente especial, que esteja acontecendo simultaneamente às eleições. Ou quem sabe até o ufanismo típico brazuca que esconderá a realidade através dos gols do Neymar na Copa e das medalhas das meninas nas Olimpíadas brasileiras...

Sevcenko ressalta que ainda há tempo para sermos melhor, para a mudança do paradigma, ao passo em que dermos mais importância as relações humanas e o ser humano e suas complexidades únicas e peculiares, ao invés da valorização tecnológica e seu consequente confuso capitalismo voraz e desenfreado.

Ainda não se julgou o caso dos índios Kaiowás, tampouco o mensalinho mineiro ou a mesmo a compra de votos para a reeleição no governo FHC. Estacionada também está à reforma política, penal, tributária, eleitoral...

Enquanto nos encontramos neste emaranhado de fios, ou não, já que hoje temos o wireless, cabos, torres, tecnologia que já são lançadas para serem obsoletas até o próximo verão, seremos fadados ao pensamento mediano e comum. Não teremos interpretações individuais e nem mesmo gosto. Continuaremos a lamentar o mundo através das contas no twitter, Facebook e afins.

A revista Veja estampa o rosto de Joaquim, como a gritar que “nossos pretos pobres são melhores que os dos outros”. A transformação de um ministro do supremo em herói nacional desvia o foco até mesmo da importância de todos os outros ministros do julgamento, ou o STF é somente o Barbosa?

Deu-se destaque ao relator por causa de sua postura contundente, mas esqueceu-se sua postura em outros julgamentos. O revisor Lewandowski toma papel de escada. Escada, é o personagem que serve para o palhaço ir a forra e fazer a plateia delirar. Ricardo é ridicularizado e tomado como vilão, ao ponderar e contrapor Barbosa.

Fala-se de mensalão o tempo inteiro, mas deixam fora do conhecimento comum às causas indígenas, sociais, ideológicas e culturais. Tudo e nada é produto. Os outros escândalos de corrupção, os fichas sujas reeleitos e o sangue do jornal ensopado de sensacionalismo, compõem o elo daquilo que impulsiona e dita o moderno, onde a sensação de melhor e mais confortável é sempre mais bem vinda...

O objetivo da notícia é ser vendida. Bem vendida. No fim, nesse contexto atual, o valor monetário acaba sempre se sobrepondo ao moral. A voracidade e a velocidade do mundo contemporâneo transformaram todos em imensos martelos ambulantes, como no filme The Wall, na obra prima de Roger Waters e sua Pink Floyd.

Até o dia em que cairemos na real, em que as portas da percepção se abrirão por completo, viveremos neste mecânico e enfadonho mecanismo, onde pagamos o preço da prisão robótica e confortável. Até lá, continuaremos a trocar a liberdade pelo mundo global. Falsamente global. Categoricamente global, porque assim é melhor pra todo mundo, vivermos num liquidificador de iguais. Onde o pensamento jamais será livre.

Parem essa montanha russa que eu quero descer!

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